Primeiros Mil Dias: a importância de nutrir, cuidar e estimular

Pode até ser que o seu filho venha a ser um velhinho centenário, mas não haverá fase mais importante para o desenvolvimento físico e mental dele do que os primeiros mil dias de vida

Pode até ser que o seu filho venha a ser um velhinho centenário, mas não haverá fase mais importante para o desenvolvimento físico e mental dele do que os primeiros mil dias de vida – período que soma os 270 dias da gestação aos 730 dias até que o bebê complete dois anos de idade. Nesse período, acontece o maior estirão de crescimento do ser humano. Além disso, esses são os anos fundamentais para o desenvolvimento dos sistemas nervoso e imunológico assim como para formação de bons hábitos alimentares, que aumentarão as chances dele se tornar um adulto saudável.

O fato da contagem dos primeiros 1000 dias começar na gravidez é exatamente porque a gestação impacta na saúde física e emocional do feto. Sabe-se, por exemplo, que a alimentação da mãe durante esse período ajuda a determinar o paladar e o olfato do bebê, uma vez que as nuances de sabor passam para o líquido amniótico. Além disso, o desenvolvimento neurológico também é muito intenso na vida intrauterina e pode sofrer a influência de fumo, drogas e medicamentos ingeridos pela mãe. Quando a gestante fuma, por exemplo, o cordão umbilical se estreita para evitar que o bebê seja contaminado pelo cigarro. Só que, assim, o bebê também acaba recebendo menos nutrientes.

Só para se ter uma ideia, metade do crescimento do cérebro ocorre até o segundo ano de vida. Apesar do bebê já nascer com o cérebro desenvolvido nos pontos sensoriais, como o tato, a audição e o olfato, é nesse período que o órgão passa pelas maiores modificações cognitivas. Em campanha lançada neste ano, a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) mostra que, nos primeiros mil dias, as células cerebrais podem fazer até mil novas conexões a cada segundo – uma velocidade única na vida. Essas conexões contribuem para o funcionamento do cérebro e para a aprendizagem das crianças.

De acordo com a Equação de Heckman – criada pelo ganhador do prêmio Nobel de economia James Heckman – a cada US$ 1 investido na primeira infância, se tem US$ 7 de retorno na vida adulta. O crédito fica por conta, por exemplo, de menores índices de violência e de evasão escolar, assim como de menos gastos com tratamento de doenças evitáveis.  Além disso, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a nutrição adequada na primeira infância melhora o desempenho escolar, o que pode impactar positivamente o PIB de um país. Logo, quanto antes se investir, maior será o resultado para a criança e melhor o retorno para a sociedade.

Veja quais os princípios mais importantes dos primeiros mil dias:

NUTRIÇÃO

A alimentação apropriada para os primeiros 1000 dias, segundo a OMS, inclui uma dieta equilibrada da mãe na gravidez, o aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida do bebê e, a partir daí, a introdução de alimentos, como água, sucos, chás e papinhas. Há estudos que mostram que o aleitamento exclusivo até os seis meses de vida favorece o desempenho intelectual e que a nutrição correta reduz o risco de desenvolver obesidade e doenças cardiovasculares quando adulto. Para ajudar a entender a importância de uma nutrição adequada nesse período, é só ter em mente que os bebês triplicam o peso do nascimento ainda no primeiro ano de vida e, até os dois anos, acontece a formação dos hábitos alimentares que ele levará por toda vida.

AFETO/CUIDADO

As crianças crescem melhor quando são amadas. Carinho, afeto e contato físico são essenciais para estabelecer e fortalecer os vínculos entre pais e filhos e ajudam até a aumentar a imunidade do bebê.

Um estudo publicado pela Child Psychoterapy Trust, na Inglaterra, aponta que as experiências vividas na primeira infância afetam a formação do cérebro da criança em áreas relacionadas com a empatia e as emoções. Um estudo da Universidade de Washington demonstrou que o hipocampo (parte do cérebro relacionada à memória, aprendizagem e autocontrole) cresce duas vezes mais rápido nas crianças que recebem mais apoio emocional da mãe. E isso tudo começa no ventre, uma vez que o feto já demonstra capacidade de audição desde a sexta semana de gravidez, podendo reconhecer a voz dos pais e captar todas as emoções que as acompanham. Por isso, a recomendação é para que ambos “conversem com a barriga”.

ESTÍMULO

Brincar deve ser considerado como uma das atividades mais importantes da criança, desde o nascimento. Com um bebê de um mês, por exemplo, dá para balançar um chocalho para que ele ouça o som e associe ao movimento. Com os maiorzinhos, brincar também favorece o exercício da autonomia, o que possibilita que as crianças sejam mais independentes , autoconfiantes e menos agressivas. Isso além de estimular a inteligência, claro. Uma pesquisa feita pela Universidade Federal de Pelotas (RS) com crianças de 2 e de 4 anos mostrou que as que têm contato com livros, visitam outras pessoas ou brincam em parques ou praças nos primeiros 2 anos de vida apresentam melhores resultados em testes específicos de memória, inteligência e cognição. Uma prova de que, como já se sabe, não é apenas a genética que determina o potencial de crescimento e desenvolvimento do indivíduo.

Oferecer condições favoráveis ao desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida é mais eficaz e gera menos custo do que tentar reverter ou minimizar os problemas mais tarde. Por isso, durante esse período faz muito sentido a máxima “prevenir é melhor que remediar”.

REFERÊNCIAS

Organização Mundial da Saúde, Unicef, Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal

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