A gravidez é um dos processos mais revolucionários do corpo feminino. São incontáveis as mudanças que acontecem desde o momento exato da concepção até a hora do parto. Entretanto, não apenas o útero é capaz de aumentar 20 vezes o seu próprio peso para suportar o tamanho de uma criança, as alterações também são psíquicas e comportamentais: afinal, para que nasça um filho, também é necessário que “nasça” uma mãe.
Muito se fala sobre o amor que as mães sentem pelos filhos, e alguns teóricos encaram esse vínculo como algo instintivo, não à toa a expressão “instinto materno” é tão popular. A antropóloga Sara Hardy, por exemplo, defende que o instinto materno está ligado à ação hormonal durante a gravidez, principalmente da progesterona e do estrogênio dos últimos três meses da gestação. A norte-americana ressalta que as mulheres possuem uma predisposição biológica calcada nos genes femininos responsáveis por manter esse vínculo, que passa a ter um estabelecimento mais acentuado no fim da gravidez, como forma de preparar a mulher para cuidar do bebê.
Outra justificativa para o surgimento do vínculo materno antes mesmo do nascimento do bebê é a íntima comunicação corporal da mãe com o filho. Tudo começa a partir do momento em que a mulher percebe os sintomas da gravidez, como enjoos, ausência de menstruação, mudanças físicas no corpo. A partir daí, durante nove meses, os organismos estão conectados de forma que a mulher nutre o bebê.
Por isso, a partir do momento do parto, desacostumar-se com a presença interna do filho também é um desafio impulsionado pela natureza. Estudos científicos também apontam para fatores biológicos importantes na construção do vínculo no pós-parto. Quando o pequeno nasce, há uma mudança hormonal muito brusca que traz à tona uma predisposição dos cuidados maternos. É neste momento que a oxitocina e a prolactina, hormônios capazes de fazer descer o leite materno, entram em ação.
Outro aspecto importante nessa relação após o parto é a afetividade, isto é, sentimentos e emoções que se apresentam em comportamentos como dar atenção, carinho e afeto por meio da palavra, do olhar e do toque.
Os sentidos do bebê, em especial o olfato e a audição, já são bem desenvolvidos desde a sexta semana de gestação. Portanto, mesmo antes de vir ao mundo ele já é capaz de reconhecer os batimentos cardíacos e a voz da mãe. Assim que nasce, a criança reconhece instintivamente o cheiro da mãe e isso se torna uma das principais formas de ela notar a presença materna.
Enfim, mesmo que não pareça, mãe e filho estão muito mais do que fisicamente conectados. Desde a concepção, o vínculo entre os dois se estabelece e, salvo exceções, tende a ser um dos mais fortes e perenes da existência.