TVs, celulares e tablets: os malefícios das telas no desenvolvimento da visão da criança
Pesquisa recente apontou a incidência de danos irreversíveis na retina das crianças devido à emissão de luz azul das telas
Pesquisa recente apontou a incidência de danos irreversíveis na retina das crianças devido à emissão de luz azul das telas
Em um mundo em que até os minutos das refeições são contados e todos, invariavelmente, aprendem desde muito cedo que sempre “faltará tempo”, é muito tentador permitir que o bebê ou a criança se entretenha em frente a uma tela. E como todo mercado que entende suas demandas, a produção vai a pleno vapor — há produtos, inclusive, desenvolvidos especialmente para isso: meu primeiro tablet, meu primeiro smartphone, de todas as cores, com orelhinhas, que acendem luzes, fazem barulho, ensinam os números, os barulhos dos animais. Milhares de jogos disponíveis para baixar on-line, a um dedinho de distância.
Além da discussão sobre vantagens e desvantagens cognitivas do uso dessas tecnologias na primeira infância, há uma outra discussão importante: o quanto essas telas podem prejudicar a visão do bebê e da criança.
Cientistas da Coreia do Sul desenvolveram uma pesquisa oftalmológica com uma amostra de 916 pequenos com faixa etária de 7 a 12 anos. Do total, cerca de 6,6% manifestaram sintomas da síndrome pediátrica do olho seco — uma condição que, anteriormente, acometia apenas adultos com idade mais avançada. 97% daqueles que apresentaram os sinais utilizavam tablets ou smartphones por um período de três horas diárias.
Outra pesquisa liderada pelo optometrista australiano Dr. Jim Kokkinakis, do instituto The Eye Practice, localizado em Sydney, apontou a incidência de danos irreversíveis na retina das crianças devido a emissão de luz azul das telas: entre eles estão a degeneração macular precoce, principal causa de catarata e cegueira em indivíduos com mais de 50 anos.
A Academia Americana de Pediatria orienta que menores de dois anos não tenham acesso a televisão, jogos eletrônicos, computadores, tablets e smartphones. No entanto, como essa é uma missão quase impossível, os especialistas indicam que o uso seja supervisionado e com tempo determinado.
“Do meu ponto de vista, para o bom desenvolvimento dos olhos das crianças, não deveria haver exposição alguma, mas essa não é a nossa realidade. É comum ver os pequenos em frente às telas na hora de comer, para parar de chorar, em restaurantes etc. Nesse caso, o tempo de exposição deve ser minúsculo. No máximo, de dez a quinze minutos por período — de manhã, tarde e noite”, explica a oftalmologista Erica Viggiani Bicudo.
E antes que os pais acreditem que essa seja uma medida extremista, a oftalmologista adverte: “Mesmo os maiores, com idades entre cinco a seis anos, devem ficar no máximo uma hora em frente às telas. Tenho me assustado com o número de adolescentes com problemas de cansaço visual justamente por essa exposição. São problemas que, antigamente, aconteciam com pessoas mais velhas, que tinham por volta de 50 anos.”
No caso dos bebês, a explicação para que esses aparelhos sejam contra-indicados é simples: até completarem dois meses de idade, os pequenos só conseguem ver com exatidão rostos e objetos posicionados num raio de distância que varia entre 20 a 30 centímetros. A musculatura do olho, quando o foco é próximo, precisa estar contraída.
Então, quando as crianças ficam por muito tempo olhando para as telas próximas, essa musculatura permanece contraída. Para enxergar de longe, há que existir um relaxamento que vai demor mais tempo a ser alcançado. Por isso, não é indicado que o olhar permaneça fixo por muito tempo num mesmo ponto. Por isso, é importante brincar com o bebê com objetos como móbiles, bichinhos e outros brinquedos que se movimentam, para exercitar o olhar, as noções espaciais e de profundidade”, recomenda Erica.
Sempre que o tratamento é feito no momento certo, as consequências são menores e há menos chance de sequelas. Isso vale para tudo. Inclusive para a visão.
Até o bebê completar seis meses de idade, é comum que os haja um desvio, tanto convergente (para dentro), quanto divergente (para fora) da visão por alguns segundos, mas depois dessa idade, se o desvio permanecer, pode ser sintoma de alguma doença ou complicação:
“Se a criança se aproxima muito dos objetos para enxergar, aperta os olhos para enxergar de longe, é preciso procurar um oftalmologista o mais rápido possível. No caso do estrabismo, quanto antes se dá o tratamento, melhor será a visão binocular, ou seja, a visão na qual os olhos são usados em conjunto. Outra condição que somente pode ser corrigida na infância é a ambliopia, também chamada de “olho preguiçoso”, que caracteriza a imprecisão de visão sem que haja lesão orgânica perceptível do olho”, explica Fábio Ejzenbaum, oftalmopediatra da Santa Casa de São Paulo.
Se você é pai ou mãe, provavelmente está preocupado com a saúde dos seus filhos durante a pandemia do novo coronavírus. Informar-se sobre as formas de transmissão, sintomas e prevenção é a melhor forma de protegê-los.
A criação dos filhos está diretamente associada à figura da mãe, mas ela não deve ser a única responsável por essa tarefa.
Pais que comem demais criam filhos comilões? Adultos que têm medo de tudo transmitem isso às crianças? Não necessariamente.